12 de janeiro de 1985
No dia 12 de janeiro passado, realizamos a nossa primeira reunião do ano com a participação do querido Chico. Estávamos, portanto, muito felizes.
"O Evangelho" nos ofereceu às reflexões um tópico do Cap. VI — "O Cristo Consolador".
Vários companheiros abordaram o tema com felicidade, sendo que pudemos, da palavra de cada um, coletar as idéias básicas que resumimos abaixo:
— "Aqueles que carregam os seus fardos e assistem os seus irmãos, são bem-amados meus"; "Muitas vezes passamos a vida fazendo planos...
que não executamos"; "Curar a nossa dor pelo trabalho, o autêntico remédio"; "As dificuldades são transitórias"; "A tempestade castiga a terra, mas a fertiliza"; "Quando quisermos pedir algo a alguém, peçamos a quem é ocupado, porque o desocupado não tem tempo para nada"; "A preocupação central do homem tem sido as conquistas materiais"; "O Evangelho veio para quem deseja ser feliz"...
Após os preciosos comentários, o Sr. Weaker pergunta ao Chico se ele deseja falar alguma coisa, ao que o nosso companheiro responde 139 afirmativamente.
"Algumas de nossas irmãs se referem à minha presença, mas estou aqui como necessitado... Agradeço esse carinho, mas preciso declarar que não tenho expressão alguma para ser uma pessoa destacada.
"O Espírito Emmanuel, aqui presente, nos pede para compararmos a Doutrina Espírita a uma grande "empresa", organizada pelo Cristo, onde nós solicitamos emprego. Vimos através do sofrimento, das dificuldades, das lutas domésticas...
Pedimos socorro. Ignoramos muitas vezes que estamos pedindo trabalho (o grifo é meu), pedindo colocação para trabalhar e receber algum vencimento para sustentar a nossa vida.
As interpretações da palavra de Cristo são diversas, mas no Espiritismo esse sentido de "empresa" é muito pronunciado... Estamos pedindo emplacamento em serviço, pedimos para fazer parte da equipe de trabalho que funciona dentro da Doutrina...
"...
Os que são portadores de provas tão dolorosas que, às vezes, nem mesmo explicá-las conseguem; não fossem os casais desajustados; não fossem aqueles que não compreendem os ensinamentos de Jesus, e que nos apedrejam e magoam; se não fosse toda essa equipagem do navio chamado "Terra", lutando para viver, para acertar, que nos procuram em nossos Núcleos todos os dias, o que é que teríamos para fazer?
Se fôssemos uma coleção de pessoas boas, ligadas no Cristo, se um falasse e todos compreendessem, estaríamos dentro de uma monotonia muito grande; é dessa multiplicidade de problemas, muitas vezes em nós mesmos, que encontramos trabalho para fazer, a fim de diminuir o peso da carga.
"Não podemos esperara muita coisa...
Muitas religiões se contentam com uma prece semanal, atos religiosos quinzenais, mas no Espiritismo somos "alfinetados", e ninguém escapa desde que estejamos dentro da "empresa" trabalhando... Não apenas glorificando o nome do Senhor, mas trabalhando muito para que a nossa fé seja realmente uma fé ativa e criativa, ao mesmo tempo"...Porque podemos improvisar alguma coisa em favor do próximo.
Temos uma inteligência mais ou menos em desacordo com o coração, como acontece comigo — comparecem aqui dentro o orgulho, o egoísmo, a jactância...
Ajudar os outros em tudo aquilo que se faça possível em nosso esforço. Todo esforço é grande pela essência que representa. (o grifo é meu) Não devemos pensar em braços cruzados, em paraíso prematuro, em angelitude antes de sermos criaturas humanas perfectíveis; quando compreendermos tudo isso, veremos que já estamos dentro de uma "empresa" maravilhosa.
"Lembramo-nos da Lei de Causa e Efeito apenas em matéria de sofrimento, mas ela funciona também para o bem. Quem faz o bem, queira ou não, será recompensado... O Senhor manda que o mal seja corrigido e o bem seja estimulado em benefício de cada um de nós..."
Enquanto a prece final era proferida, agradecíamos também a Jesus pela oportunidade, na presente encarnação, de estarmos admitidos como simples funcionário nesta abençoada "empresa" de luz, que é a Doutrina Espírita!
Livro: À sombra do abacateiro. Carlos A. Bacelli.
"Durante muitos anos (1980-1985) , todos os sábados à tarde, Chico se dirigia com um grupo de amigos à Vila dos Pássaros Pretos, na periferia de Uberaba-MG, e ali sentados à sombra de um frondoso abacateiro, liam e debatiam o Evangelho, cercados por uma multidão de moradores pobres, findo o que, entregava a cada um, 1 pão, 1 kg de açúcar, 1 kg de feijão e dinheiro com valor simbólico (duas notas de um cruzeiro e uma de cinco). Muitas destas palestras pronunciadas por Chico, assistido invariavelmente por Emmanuel, foram anotadas pelo médium Carlos A. Baccelli e reunidas no livro "Chico Xavier à Sombra do Abacateiro" Editora André Luiz - 1986."
Carlos A Bacelli