-Por favor, senhor, tem algo que possa dar-me para matar minha fome? Pois ainda nada comi!
Surpreso, me dirijo até ele e me sento a seu lado naquela calçada, enquanto ele me diz:
- Hoje, adentro essa casa espírita e todos me olham como a um leproso, talvez por perturbar a falsa e suposta harmonia que prevalece construída muitas vezes com a mentira, a falsidade e intenções distorcidas.
Hoje fazem me sentir assim, como mendigo, lá dentro ninguém fala comigo senão para perguntar o que quero e o que quero ali, e tem muita pressa que eu responda, para se livrarem logo de mim, sempre têm nojo de mim e querem que eu fique longe deles, minhas mãos se queimam com o que me dão, também dói bem lá no fundo e o pranto me lembra que, como eu, muitos vão sofrer, talvez eles não saibam por que estou assim, como mendigo, é... talvez não saibam...
Há muitos anos moço, eu também era um digno representante de uma casa espírita, e muito grande, que atendia quase mil pessoas por mês, era orgulhoso do que fazia e me sentia amado pelos confrades. Meus irmãos de fé me tinham como espírita brilhante, segundo eles, era eu, digno de atenção da espiritualidade superior, iluminado por todos eles para cumprir aquilo que eles chamavam de minha missão. Lutava com todas as minhas forças para manter o grupo unido.
O Evangelho, sempre o tive em alta conta, sempre iluminando os meus passos, fazia todos os programas de estudos da casa, reunia confrades do todas as regiões do País para a elaboração de cursos sempre baseados no livro dos espíritos, mas, mesmo assim aqui estou, e o senhor deve estar se perguntando, com tantos predicados como chegou a tal ponto?
Agradeço do fundo do meu coração sua atenção, e tentarei satisfazer a sua digna curiosidade.
Na direção da instituição espírita, nunca me preocupei com as quatro partes mais importantes da Doutrina, aquelas que mantêm o equilíbrio de toda a organização da casa espírita, quais sejam:
biblioteca, triagem para o tratamento, assistência social, e desenvolvimento mediúnico.
Esqueci que a biblioteca era responsável pelo setor de divulgação da Doutrina na casa espírita, e deixei que fossem inseridas obras que não zelava pelo primor da Doutrina, e muitas vezes de fontes duvidosas. Criando uma linha de raciocínio paralelo, cristalizando e politizando o setor, quando percebi, atentei para a pureza doutrinária, mas já era tarde, a guerra de pontos de vistas já tinha se instalado, e eu me tornei o elemento segundo eles perturbado, e fui levado para tratamento de desobsessão.
Na assistência social não prestei muita atenção, pois imaginava que o mais importante era cadastrar as pessoas para receber a cesta básica e visitá-las todos os meses pra saber se estava tudo bem. Tristemente não percebi que doar alguma coisa não é dar alguma coisa, para doar precisamos estar atentos também a outras coisas essenciais, entre elas as necessidades do espírito, como:
educação, cultura, redirecionamento social, disciplina e acompanhamento moral.
Na triagem, moço foi onde caí feio, alguns confrades meus que empenhavam se nos estudos literários da casa, foram deslocados para assumi-la, qual não foi minha grande tristeza, quando me dei por conta, estavam eles envolvidos com espíritos infelizes que atuavam como freio às reais necessidades dos meus irmãos, que perturbados procuravam a casa para tratamentos e amparo, não permitindo que chegassem a equipe de atendimento.
Mas, onde eu mais errei, foi na educação mediúnica.
Nesta área, não compreendi que todos os cursos que eram ministrados sob minha orientação, orientação esta, herdada de órgãos que se dizem superiores na coordenação das casas espíritas.
Cego não percebi, que nenhum deles, já viciados pelos pontos de vistas cristalizados nas falsas obras espíritas, aquelas mesmas que deixei por descuido entrar pela porta da indisciplina e fascínio, disfarçados de ingenuidade, era mais importante do que o nobre Curso de Educação Mediúnica ministrado pelo Espírito de Verdade e sua equipe através de Allan Kardec, chamado de O Livro dos Médiuns.
Por isso hoje estou aqui, a beira da calçada, como vê, não deixei que a arvorezinha que me foi entregue na figura desta casa, fosse protegida das inserções do mundo das trevas.
Hoje compartilho com ela as minhas dores e decepções.
Não fui forte o suficiente para deter-me e me ver como era, apenas o colaborador aprendiz, quis dirigir ensinos, orientar multidões, e fazer valer meus pontos de vistas todos ironicamente sob a luz da Doutrina, e não vi o mais importante, que os pontos de vistas eram meus, e não da Doutrina.
Como vê caro irmão o Mestre disse "nem todos que dizem senhor, senhor entrarão no reino dos céus", Agora tenho que recomeçar da calçada, como mendigo de luz que sempre fui só não percebia.
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