"EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA" JESUS

"... a sabialidade não está naquilo que se faz, está naquilo que você sente em fazer." Dr. Claudionor de Carvalho

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"Nosso SUS é JeSUS"

Sentada, esperava o atendimento médico (terrícola). 
Desde cinco horas da manhã, estava numa fila para pegar uma senha. A senha me daria direito à marcação de uma consulta. A consulta seria marcada para uma semana seguinte (ou mais, é meio uma coisa de"sorte"). 
Segundo Dona Maria, companheira de fila, a chamarei assim, "tudo é coisa de sorte". 
Dona Maria é uma dessas mulheres idosas, que assomam os Postos de Saúde do país (Brasil). Mais especificamente, da cidade de Itabuna, no Estado em estado de lamúria: Bahia. 
Todos estavam meio sonolentos, mas ela estava a todo vapor. Estaria excelente, não fosse a catarata que aguarda cirurgia faz um ano... "A televisão diz que é só vim no Posto né minha fia?" Perguntou afirmando, aquela senhora simpática, apesar de "nitidamente" sofrida. As mãos calejadas, as unhas (duas) ausentes dos dedos. Soube que fora por causa de tanto lavar roupa "de outros". Respondi que a televisão mente. Ela riu. Confirmando minha suspeita: sua boca não tinha mais nem um dente. A televisão também mente sobre isso... Brasil sorridente? Aonde? Não seria: Brasil, o país que sorri, mesmo sem dentes?! 
Fiquei sentada num dos batentes da porta (fechada) depois de pegar o número 28 - minha senha. Dona Maria pegou a senha 29, dos idosos... Ela me olhou e falou: "quase que a gente se inguala ne?!" Mostrando-me seu número. Respondi que poderíamos trocar, para que ela fosse atendida antes de mim, que cheguei depois. Aquela criatura bem humorada, àquela hora da manhã disse: "precisa não minha fia, quando saí de casa, deixei o feijão no ponto. Quando vortá é só fritar uma carne e tô sartisfeita." 
Tive inveja dela. Quietinha, calada, senti inveja, admito, daquela mulher. Conversadeira, faladeira e animada. De seu, uma sacola de plástico com a documentação necessária para o atendimento no posto: identidade, cartão do SUS e cartão da farmácia do posto. 
Contou-me que tinha ganhado uma "casinha do Governo", mas não deu para se mudar, porque invadiram-na. Disse-lhe consternada: oh meu Deus, que coisa... 
Dona Maria, muito fervorosamente disse-me para não ficar triste porque foi Deus: "mataram um lá 'drento' minha fia!" E fez o sinal da cruz. 
Nisso já eram sete horas e a movimentação indicava os funcionários chegando. Minha amiga logo me aconselhou tomar meu lugar na fila: "o povo enrola, fique esperta!" Nós duas ficamos empareadas: ela na fila dos idosos e eu na fila comum. "Dá pra continuar a prosa ne?!" Falou-me contente oferecendo seu lanche: um pacote de biscoitos "poca zói": "é meu biscoitcho favorito!" sonfessou...
Deu -me vontade de chorar, porque aquela mulher me trazia vontade de ser tão pobre, mas tão pobre, feito o mais pobre dos devotos de Cristo... Lembrou-me Madre Teresa, lembrou-me Irmã Dulce, lembrou-me Santa Clara, porque fiquei sabendo ainda, que aquela senhora, cuidava de uma vizinha que fora abandonada pela família, uma senhorinha de setenta e seis anos, paraplégica e asseverou-me: "ô minha fia, fiquei pensano anssim, que eu não tenho nada, mas posso ser uma irmã de coração dela ne?" 
Quis morrer de vergonha!... Eu, que tantas vezes acordo para a inutilidade de um dia inteiro de bobagens vãs... 
Contou-me que às vezes ela agradece aquela vizinha irmã ter aparecido, porque era sozinha no mundo. Não casou, não teve filhos, nem marido... "Querdita?!" Acredito. Acredito Dona Maria... 
No final, estávamos pertinho do atendimento da senha, a moça olhou para ela e disse: "a marcação para oftalmologista acabou." Ela me olhou, sorriu e disse: "é minha fia, nosso Sus é JeSUS!" 
Pedi que fosse ao "Lactário" (posto do bairro vizinho). Ela disse que iria no outro dia, falar com uma amiga na Prefeitura. Abracei-a e disse tão do fundo do coração: obrigada! Ela respondeu, "oche! por mode os biscoito? Quê mais minha fia?!" Agradeci e respondi: "obrigada por tudo!" 
Nem sabia mais se queria marcar consulta depois de ter estado com aquela senhora, tão simples e tão rica. Acho que foi um presente Dele para me curar um pouquinho de mim... Concordo Dona Maria: nosso Sus, definitivamente é JeSUS.

Crônica de Solineide Maria.
Também publicada no blog da autora.

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