''A ninguém ordena o
Senhor que se despoje do que possua, condenando-se a uma voluntária
mendicidade, porquanto o que tal fizesse tornar-se-ia em carga para a
sociedade. Proceder assim fora compreender mal o desprendimento dos bens
terrenos. Fora egoísmo de outro gênero, porque seria o indivíduo eximir-se da
responsabilidade que a riqueza faz pesar sobre aquele que a possui. Deus a
concede a quem bem lhe parece, a fim de que a administre em proveito de todos.
O rico tem, pois, uma missão, que ele pode embelezar e tornar proveitosa a si
mesmo. Rejeitar a riqueza, quando Deus a outorga, é renunciar aos benefícios do
bem que se pode fazer, gerindo-a com critério. Sabendo prescindir dela quando
não a tem, sabendo empregá-la utilmente quando a possui, sabendo sacrificá-la
quando necessário, procede a criatura de acordo com os desígnios do Senhor.
Diga, pois, aquele a cujas mãos venha o que no mundo se chama uma boa fortuna:
Meu Deus, tu me destinaste um novo encargo; dá-me a força de desempenhá-lo
segundo a tua santa vontade.
Aí tendes, meus
amigos, o que eu vos queria ensinar acerca do desprendimento dos bens terrenos.
Resumirei o que expus, dizendo: Sabei contentar-vos com pouco. Se sois pobres,
não invejeis os ricos, porquanto a riqueza não é necessária à felicidade. Se
sois ricos, não esqueçais que os bens de que dispondes apenas vos estão
confiados e que tendes de justificar o emprego que lhes derdes, como se
prestásseis contas de uma tutela. Não sejais depositário infiel, utilizando-os
unicamente em satisfação do vosso orgulho e da vossa sensualidade. Não vos
julgueis com o direito de dispor em vosso exclusivo proveito daquilo que
recebestes, não por doação, mas simplesmente como empréstimo. Se não sabeis
restituir, não tendes o direito de pedir, e lembrai-vos de que aquele que dá
aos pobres, salda a dívida que contraiu com Deus.''
Lacordaire.
(Constantina, 1863.)
http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/es/es-16.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Se for mensagem de amor, pode postar!