JOSÉ
Espírito Protetor, Bordeaux, 1863
16 –
Espíritas, queremos hoje vos falar da indulgência, esse sentimento tão doce,
tão fraternal,que todo homem deve ter para com os seus irmãos, mas que tão
poucos praticam. A indulgência não vê os defeitos alheios, e se os vê, evita
comentá-los e divulgá-los. Oculta-os, pelo contrário, evitando que se
propaguem, e se a malevolência os descobre, tem sempre uma desculpa à mão para
os disfarçar, mas uma desculpa plausível, séria, e não daquelas que, fingindo
atenuar a falta, a fazem ressaltar com pérfida astúcia.
A indulgência jamais se preocupa com os maus atos
alheios, a menos que seja para prestar um serviço, mas ainda assim com o
cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, nem
traz censuras nos lábios, mas apenas conselhos, quase sempre velados. Quando
criticais, que dedução se deve tirar das vossas palavras? A de que vós, que
censurais, não praticastes o que condenais, e valeis mais do que o culpado. Oh,
homens! Quando passareis a julgar os vossos próprios corações, os vossos
próprios pensamentos e os vossos próprios atos, sem vos ocupardes do que fazem
os vossos irmãos? Quando fitareis os vossos olhos severos somente sobre vós
mesmos?
Sede,
pois, severos convosco e indulgentes para com os outros. Pensai naquele que
julga em última instância, que vê os secretos pensamentos de cada coração, e
que, em conseqüência, desculpa freqüentemente as faltas que condenais, ou
condena as que desculpais, porque conhece o móvel de todas as ações. Pensai que
vós, que clamais tão alto: “anátema!” talvez tenhais cometido faltas mais
graves.
Sede
indulgentes meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, corrige, enquanto
o rigor desalenta, afasta e irrita.
JOÃO
Bispo de Bordeaux, 1862
17 –
Sede indulgentes para as faltas alheias, quaisquer que sejam; não julgueis com
severidade senão as vossas próprias ações e o Senhor usará de indulgência para
convosco, como usastes para com os
outros.
Sustentai os fortes: estimulai-os à
perseverança; fortificai os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva
em conta o menor arrependimento; mostrai a todos o anjo da contrição,
estendendo suas brancas asas sobre as faltas humanas, e assim ocultando-as aos
olhos daqueles que não podem ver o que é impuro. Compreendei toda a
misericórdia infinita de vosso Pai, e nunca vos esqueçais de lhe dizer em
pensamento, mas sobretudo pelas vossas ações: “Perdoai as nossas ofensas, como
perdoamos aos nossos ofensores”. Compreendi bem o valor destas sublimes
palavras; pois não são admiráveis apenas pela letra, mas também pelo espírito
que elas encerram.
Que
solicitais ao Senhor quando lhe pedis perdão? Somente o esquecimento de vossas
faltas? Esquecimento de que nada vos deixas, pois se Deus se contentasse de
esquecer as vossas faltas, não vos puniria, mas também não vos recompensaria. A
recompensa não pode ser pelo bem que não fez, e menos ainda pelo mal que se
tenha feito, mesmo que esse mal fosse esquecido. Pedindo perdão para as vossas
transgressões, pedis o favor de sua graça, para não cairdes de novo, e a força
necessária para entrardes numa nova senda, numa senda de submissão e de amor,
na qual podereis juntar a reparação ao arrependimento.
Quando perdoardes os vossos irmãos,
não vos contenteis com estender o véu do esquecimento sobre as suas faltas.
Esse véu é quase sempre muito transparente aos vossos olhos. Acrescentai o amor
ao vosso perdão, fazendo por ele o que pedis a vosso Pai Celeste que faça por
vós. Substituí a cólera que mancha, pelo amor que purifica. Pregai pelo exemplo
essa caridade ativa, infatigável, que Jesus vos ensinou. Pregai-a como ele
mesmo o fez por todo o tempo em que viveu na Terra, visível para os olhos do corpo,
e como ainda prega, sem cessar, depois que se fez visível apenas para os olhos
do espírito. Segui esse divino modelo, marchai sobre as suas pegadas: elas vos
conduzirão ao refúgio onde encontrareis o descanso após a luta. Como ele, tomai
a vossa cruz e subi penosamente, mas corajosamente, o vosso calvário: no seu
cume está a glorificação.
DUFÉTRE
Bispo de Nevers, Bordeaux
18 –
Queridos amigos, sede severos para vós mesmos e indulgentes para as fraquezas
alheias. Essa é também uma forma de praticar a santa caridade, que bem poucos
observam. Todos vós tendes más tendências a vencer, defeitos a corrigir,
hábitos a modificar. Todos vós tendes um fardo mais ou menos pesado que alijar,
para subir ao cume da montanha do progresso. Por que, pois, ser tão
clarividentes quando se trata do próximo, e tão cegos quando se trata de vós
mesmos? Quando deixareis de notar, no olho de vosso irmão, um argueiro que o
fere, sem perceber a trave que vos cega e vos faz caminhar de queda em queda?
Crede nos Espíritos, vossos irmãos. Todo homem bastante orgulhoso para se
julgar superior, em virtudes e méritos, aos seus irmãos encarnados, é insensato
e culpado e Deus o castigará, no dia da sua justiça. O verdadeiro caráter da
caridade é a modéstia e a humildade, e consiste em não se verem
superficialmente os defeitos alheios, mas em se procurar destacar o que há de
bom e virtuoso no próximo. Porque, se o coração humano é um abismo de
corrupção, existem sempre, nos seus mais ocultos refolhos, os germes de alguns
bons sentimentos, centelhas ardentes da essência espiritual.
Espiritismo, doutrina consoladora e bendita, felizes os que te conhecem
e empregam proveitosamente os salutares ensinos dos Espíritos do Senhor! Para
esses, o ensino é claro, e ao longo de todo o caminho eles podem ler estas
palavras, que lhes indicam a maneira de atingir o alvo: caridade prática,
caridade para o próximo como para si mesmo. Em uma palavra, caridade para com
todos e amor de Deus sobre todas as coisas, porque o amor de Deus resume todos
os deveres, e porque é impossível amar a Deus sem praticar a caridade, da qual
Ele faz uma lei para todas as criaturas.
O Evangelho Segundo o Espiritismo - Tradução José Herculano Pires
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