Capa da primeira edição da obra - 1932
No livro Parnaso de Além-Túmulo - Francisco Cândido Xavier nos traz vultos renomados da poesia escrevendo mensagens edificantes e de esclarecimentos sobre a vida depois da morte física.
Trata-se de leitura muito atraente, pois, além de nos emocionar - por sermos tocados com a estrutura lírica dos textos- alerta para a necessidade de estarmos atentos para a fortuna de estarmos encarnados num planeta de provas e expiações – ainda que cercado por dissabores.
Escolhemos o poema abaixo para caracterizar nossa reflexão. A biografia do autor (Casimiro de Abreu) também consta no livro.
Casimiro de Abreu
Poeta fluminense, desencarnou aos 18 de outubro de 1860,
na Fazenda de Indaiaçu, no então município de Barra de São João,
hoje denominado Casimiro de Abreu, com 21 anos de idade,
acometido de tuberculose pulmonar. Figura literária das mais
típicas do seu tempo, o autor malogrado de Primaveras ainda aqui
se afirma no seu profundo quão suave nativismo lírico. Suas
composições possuem “um saboroso estilo colorido, sensível e
personalíssimo” – disse Ronald de Carvalho.
A Terra
(Aos pessimistas)
Se há noite escura na Terra,
Onde rugem tempestades,
Se há tristezas, se há saudades,
Amargura e dissabor,
Também há dias dourados
De sol e de melodias,
Esperanças e alegrias,
Canções de eterno fulgor!
A Terra é um mundo ditoso,
Um paraíso de amores,
Jardim de risos e flores
Rolando no céu azul.
Um hino de força e vida
Palpita em suas entranhas,
Retumba pelas montanhas,
Ecoa de Norte a Sul.
Os sonhos da mocidade,
As galas da Natureza,
Livro de excelsa beleza
Com páginas de esplendor,
Onde as histórias são cantos
De gárrulos passarinhos,
Onde as gravuras são ninhos
Estampados no verdor;
Onde há reis que são poetas,
E trovadores alados,
Heróis ternos, namorados,
Gargantas de ouro a cantar,
Saudando a aurora que surge
Como ninfa luminosa,
A olhar-se toda orgulhosa
No espelho do grande mar!
Onde as princesas são flores,
Que se beijam luzidias,
Perfumando as pradarias
Com seu hálito de amor;
Desabrochando às centenas,
Na estrada onde o homem passa,
Oferecendo-lhe graça,
Sorrindo, cheias de olor.
O dia todo é alvorada
De doces encantamentos;
A noite, deslumbramentos
Da Lua, em seus brancos véus!
A tarde oscula as estrelas,
Os astros o Sol-nascente,
O Sol o prado ridente,
O prado perfuma os céus!...
Quem vive num éden desses,
É sempre risonho e forte,
Jamais almeja que a morte
Na vida o venha tragar;
Sabe encontrar a ventura
Nesse jardim de pujanças,
E enche-se de esperanças
Para sofrer e lutar.
Se há noite escura na Terra,
Abarrotada de dores,
De lágrimas e amargores,
De triste e rude carpir,
Também há dias dourados
De juventude e esplendores,
De aromas, risos e flores,
De áureos sonhos no porvir!...
Francisco Cândido Xavier - Parnaso de Além-Túmulo 167-171
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